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Depois de ter revisto o relatório de patologia e a informação de estadiamento com o seu médico, é altura de planear a estratégia de tratamento. Nesta secção, discutimos os diferentes tipos de tratamentos que estão disponíveis para o carcinoma basocelular (CBC) e as suas vantagens e desvantagens.*

Tratamentos de superfície/ destrutivo

Estes são tratamentos que são aplicados diretamente na sua pele para tratar CBC.

Curetagem e Electrodisseção (C&E)

Neste procedimento, o médico raspa o cancro da sua pele (curetagem). Depois aplica calor para destruir quaisquer células cancerígenas remanescentes (electrodisseção), o que também pára qualquer hemorragia que possa surgir.

Vantagens:

  • É rápido, frequentemente realizado em visita de ambulatório
  • Não requer pontos (ou uma consulta de seguimento para os retirar)
  • É uma opção não-invasiva para pessoas que não querem ou não toleram um procedimento mais invasivo
  • Para grupos de alto risco que podem ter numerosos CBC, a C & E permite um tratamento rápido de múltiplos cancros ao mesmo tempo. É apenas importante verificar a patologia para ter a certeza de que não existem características de alto risco

Desvantagens:

  • Não funciona bem em áreas que têm cabelo
  • Pode não sarar tão bem como uma excisão, por isso provavelmente não deve ser usado numa área do corpo em que esteja preocupado com a aparência
  • Se o tumor for mais profundo do que o esperado, pode ainda ter de ser removido cirurgicamente
  • Não é tão eficaz como a cirurgia

Criocirurgia

Este procedimento envolve a aplicação de uma substância fria, como o azoto líquido, no tumor levando ao seu congelamento. Pode ser considerado para CBC de baixo risco quando tratamentos mais eficazes ou não são aconselhados ou são impraticáveis. Também pode ser considerado em indivíduos com condições que  levam à formação de um grande número de tumores.

Tratamentos com Medicamentos Tópicos

Dois medicamentos são utilizados em CBC de baixo risco ou quando um doente tem um grande número de CBC pequenos dentro de uma região.

Imiquimod (Aldara®)

Este medicamento modula o sistema imunitário e foi aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de CBC superficial no tronco, pescoço, e extremidades. É normalmente aplicado uma vez por dia ou de dois em dois dias, durante seis semanas ou mais.

5-Fluorouracil (5-FU)

Este é um medicamento de quimioterapia que é normalmente aplicado duas vezes por dia durante três a seis semanas.

Tanto o imiquimod como o 5-FU atuam para destruir células cancerosas, pelo que muito provavelmente sentirá reações onde foram aplicados. Estas incluem vermelhidão da pele, inchaço, feridas, crosta, comichão, e formigueiro.

Cirurgia

Existem dois tipos gerais de cirurgia para CBC:

Excisão Local Ampla

Um dermatologista (ou cirurgião especializado) corta o cancro e uma área em redor do tumor. A remoção de uma parte extra da pele (uma margem larga) assegura que  todo o cancro foi retirado. Se houver uma margem suficientemente grande de pele normal à volta das células cancerígenas, o seu tratamento está completo. Caso contrário, o seu médico poderá ter que repetir o tratamento e retirar mais.

Cirurgia de Mohs (CM)

A cirurgia de Mohs é recomendada para CBC que é provável se repita (volte) ou que esteja numa área onde não se queira remover muita pele (como o rosto, pescoço, ou mão). A cirurgia de Mohs não é apropriada para todos os CBC, e o seu CBC deve cumprir certos critérios, tais como tamanho ou localização na face central, para que a cirurgia de Mohs seja considerada apropriada e esteja coberta por um seguro.

Na cirurgia de Mohs (também chamada cirurgia de excisão microscópica controlada), estará acordado enquanto o cirurgião retira a menor quantidade de tecido necessária para tratar o cancro. Muitas vezes este procedimento pode ser feito no consultório médico simples, mas por vezes precisa de ser realizado num centro cirúrgico. É feito num hospital raramente, apenas quando a cirurgia será extensa.

O cirurgião remove o cancro da pele que pode ser visto. Em seguida, uma fina camada de pele circundante é cortada e examinada sob um microscópio. Se células cancerígenas forem encontradas nessa camada adicional, o processo será repetido até que não se encontrem células cancerosas. O cirurgião decidirá então a melhor maneira de tratar a ferida

Radioterapia

A radioterapia é utilizada se não puder ser operado ou se realmente não o quiser. Ou em alguns casos, a radiação é utilizada para pessoas que têm CBC agressivos como tratamento de seguimento à cirurgia para ajudar a destruir quaisquer células cancerígenas remanescentes, impedindo que o cancro regresse (tratamento adjuvante). A radioterapia é dada num hospital ou centro de tratamento durante um período de várias semanas. A radiação é tipicamente utilizada apenas em pessoas com 60 anos de idade ou mais.

Terapia Fotodinâmica

Este tratamento utiliza radioterapia ativada por luz. É um processo em duas partes: uma solução (chamada fotossensibilizador) que torna a sua pele sensível à luz é aplicada ao cancro e a uma porção da pele circundante. Após uma ou mais horas, uma luz colorida ou branca será dirigida ao CBC para matar as células cancerígenas. Poderá necessitar de um único tratamento ou de múltiplos tratamentos.

Este método funciona bem para CBCs pequenos, nodulares e bem definidos. Os potenciais efeitos secundários incluem sensibilidade ao sol (obrigando a evitar o sol e utilizar fotoproteção durante 48 horas) bem como vermelhidão, inchaço, sensibilidade, e por vezes crosta ou erosão.

A terapia laser não é recomendada para o tratamento de CBC.

Termos chave:

Tratamento adjuvante: Tratamento adicional ao cancro dado após o tratamento primário para diminuir o risco de que o cancro volte. Para o cancro de pele de células escamosas, o tratamento primário é normalmente a cirurgia. O tratamento adjuvante pode incluir quimioterapia, radioterapia, tratamento hormonal, terapêutica dirigida, , terapêutica  biológica, ou imunoterapia.

Terapêutica sistémica

Medicamentos orais

Dois medicamentos que são tomados sob a forma de comprimidos aprovados pela FDA estão disponíveis para CBC avançado. Ambos os medicamentos pertencem a uma classe de fármacos denominada inibidores Hedgehog. Para mais informações sobre como funcionam os inibidores Hedgehog, ver o Barra lateral de ciência . Estes fármacos são:

Vismodegib (Erivedge®) (vis-moe-deh-gib) é um inibidor da proteína smoothened (SMO), integrante da via de sinalização de Hedgehog. Esta terapêutica foi aprovada pela FDA em 2012 para CBC avançado, incluindo tanto a doença localmente avançada como a doença metastática.

Sonidegib (Odomzo®) (so-nī-deh-gib) um medicamento de prescrição médica utilizado para tratar adultos com CBC localmente avançado que voltou após cirurgia ou radiação ou que não pode ser tratado com cirurgia ou radiação. Este medicamento foi aprovado pela FDA em 2015. O Sonidegib não é aprovado pela FDA para CBC metastático.

Vismodegibe e sonidegibe param ou retardam a propagação do cancro e reduzem os tumores em alguns doentes. De facto, alguns doentes com CBC localmente avançado vêm mesmo os seus tumores desaparecer. Estes medicamentos são geralmente tomados enquanto estiverem a funcionar e os efeitos secundários forem toleráveis.

Os inibidores de hedgehog têm uma série de efeitos secundários, incluindo espasmos musculares, perda de peso, alteração do sabor, fadiga, queda de cabelo, náuseas (enjoos), e diarreia (fezes soltas). Além disso, podem também surgir alguns problemas hepáticos associados a estes agentes. O efeito secundário mais crítico é o dano fetal – quando um bebé é exposto a estes medicamentos no útero, os medicamentos podem causar a morte do bebé antes do seu nascimento ou causar defeitos congénitos graves. Portanto, tanto as mulheres com potencial reprodutivo como os homens cujas parceiras têm potencial reprodutivo devem praticar controlo da natalidade enquanto tomam estes medicamentos se forem sexualmente ativos para evitar a gravidez e potenciais danos fetais.

Os efeitos secundários dos inibidores hedghog levaram a que cerca de 28% dos sujeitos interrompessem a terapêutica nestes ensaios clínicos, pelo que a questão da tolerabilidade é um fator a considerar. Certifique-se de ter uma conversa com o seu médico sobre os potenciais efeitos secundários antes de iniciar a terapêutica. Ajuda se souber o que esperar e existir um plano para comunicar e gerir estes efeitos secundários proativamente. Veja a secção Efeitos dos Inibidores Hedgehog na secção VIVER COM CARCINOMA DE CÉLULA BASAL para mais estratégias para abordar os potenciais efeitos secundários.

Medicação Intravenosa

Cemiplimab (Libtayo®)

é uma imunoterapia, um tratamento que ajuda o sistema imunitário do seu corpo a lutar contra o cancro. Cemiplimab é aprovado pela FDA para o tratamento de CBC avançado em doentes que foram previamente tratados com um inibidor hedgehog ou que foram candidatos não apropriados para um inibidor hedgehog. O Cemiplimab pertence a uma classe de drogas chamada inibidores da proteína da morte celular 1 (PD-1) programada. Os inibidores de PD-1 reativam parte do sistema imunitário (o sistema de células T) que foi suprimido pelas células cancerígenas. Quando este sistema de células T é reativado, pode então fazer o seu trabalho e procurar e matar células cancerígenas.

Em ensaios clínicos, em doentes com CBC localmente avançado, o cemiplimab reduziu os tumores  em 23% enquanto que 6% desapareceram completamente. A resposta durou 6 meses ou mais em 79% destes doentes que responderam ao cemiplimab. Para os doentes com CBC metastático (o que significa que o cancro se espalhou para os gânglios linfáticos ou regiões distantes), o cemiplimab reduziu os tumores em 21% dos doentes, e todos esses doentes tiveram respostas que duraram pelo menos 6 meses.

Nestes estudos, os efeitos secundários mais comuns associados ao cemiplimab foram o cansaço, dores musculoesqueléticas, diarreia, erupção cutânea, prurido, e infeção respiratória superior. O cemiplimab pode causar efeitos secundários que são tipicamente observados com inibidores de PD-1, que estão na sua maioria relacionados com a ativação do sistema imunitário. Estes efeitos secundários incluem problemas pulmonares, problemas intestinais, problemas hepáticos, problemas hormonais, problemas renais e problemas de pele como erupções cutâneas, bolhas e feridas na boca.

Medicamentos sob Investigação

Estão em curso vários ensaios com múltiplos medicamentos de investigação e abordagens para CBC. Alguns envolvem o uso de vários inibidores hedgehog para impedir o retorno do CBC ou para tratar o tumor antes da cirurgia, tornando-o mais controlável durante e após a cirurgia (terapia neoadjuvante). Estão em curso estudos adicionais de terapêuticas  imuno-oncológicas para o CBC; outros estudos estão a avaliar várias combinações terapêuticas para tratar o CBC.

Termos chave:

Neoadjuvante descreve uma terapêutica dada como um primeiro passo para reduzir um tumor antes da terapêutica principal, que é normalmente cirurgia.

Barra lateral de ciência

Sonic hedgehog? Estou num filme?

Em doentes com CBC, uma via de sinalização envolvida na sinalização celular, a via Hedgehog, está hiperativa, levando à proliferação/desenvolvimento celular sem restrições do cancro. Alguns doentes com doenças genéticas que conduzem a CBC têm mutações em genes como o PTCH, que normalmente controla a via de sinalização de Hedgehog. É por isso que os doentes com algumas doenças genéticas desenvolvem tantos CBC – não têm uma forma de suprimir essa via de sinalização. Os inibidores de hedgehog abrandam esta via hiperativa hedgehog, retardando ou parando assim o crescimento dos CBCs.

Mas de onde vem o termo hedgehog – traduzido para português ouriço-cacheiro? A via de sinalização de hedgehog também está envolvida no desenvolvimento embrionário. O nome é utilizado porque uma das moléculas intercelulares envolvidas na via, uma molécula chamada hedgehog (Hg), é encontrada nas moscas da fruta. Quando a mosca da fruta carece (ou tem uma mutação dentro) do gene Hg, as suas larvas são afetadas. As larvas assumem uma forma diferente e dizem assemelhar-se a ouriços, como se mostra abaixo.

Este facto é relevante. Nos humanos, os inibidores hedgehog também têm um efeito no desenvolvimento fetal, o que explica porque tanto o vismodegibe como o sonidegibe incluem uma forte advertência – chamada Caixa Negra – sobre potenciais danos fetais.

Mais sobre Ensaios Clínicos em CBC

Os ensaios clínicos são estudos de investigação que testam quão bem funcionam as novas abordagens médicas. Têm um lugar importante nos seus cuidados na medida que os investigadores se esforçam por melhorar os tratamentos atuais do cancro e procurar novos e melhores tratamentos. Os ensaios clínicos são essenciais para aprender sobre o cancro e como preveni-lo ou curá-lo.

Os nossos tratamentos mais eficazes contra o cancro não estariam disponíveis sem o processo de ensaio clínico. Infelizmente, muitas pessoas com cancro não estão conscientes da opção de entrar num ensaio clínico ou estão inseguros sobre o valor da participação.

O seu objetivo é encontrar o melhor tratamento disponível sempre que tomar uma decisão de tratamento. Embora possa haver um bom tratamento padrão para si – cuidados que os especialistas acreditam ser apropriados para o seu diagnóstico e histórico de tratamento específicos – às vezes o tratamento padrão disponível não é tão eficaz como você e o seu médico gostariam. Outras vezes, o tratamento padrão funciona durante algum tempo, mas depois deixa de funcionar. Noutros casos ainda, não existe um tratamento padrão para a sua situação. Nestas alturas, a participação num ensaio clínico pode ser a melhor opção para si.

A melhor altura para procurar ensaios clínicos é cada vez que for confrontado com uma decisão de tratamento.

Fim do Tratamento e Cuidados Continuados

Pode ter tido um ou uma combinação de tratamentos detalhados nesta página, mas agora que o tratamento terminou, poderá perguntar a si mesmo: “E agora?

*Ao longo destas secções sobre tratamento, fazemos referências às estratégias de tratamento recomendadas. Consultamos a Academia Americana de Dermatologia (ADA) e as diretrizes da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) sobre estes tópicos. Estes grupos profissionais são as principais autoridades em matéria de gestão do cancro da pele. Para consultar estas diretrizes, consultar RECURSOS.

Imagem de porco-espinho de Joe Hanson, PhD, Não há problema em ser esperto. [permissão pendente.]